19 de março de 2007

Lançamento do Livro

No próximo dia 30 de Março, pelas 21h30 no bar Onda Jazz vai ser a apresentação do livro "Segredos aos Pedaços" da minha autoria.
Não Faltem!!
Sinopse:
A alma espelha-se naquilo que vivemos. E o que vivemos expressa-se nas criações que alcançamos. A cada momento da vida corresponde uma disposição específica e é essa disposição específica que caracteriza cada pedaço do nosso espírito. Nestes “segredos” a autora abre-se ao Mundo e fá-lo através de uma capacidade criteriosa da escolha das palavras. Cada uma delas tem um lugar, tem um significado unívoco, uma destreza emocional e uma clareza emocionante. O resto é uma deambulação, uma viagem, por vezes curta, por vezes longa, por vezes exterior mas sempre dizendo a cada um dos leitores que ela, a autora, conhece um pouco dos segredos de cada um, que através dessas viagens o Mundo foi tornando-se cada vez menos individual, cada vez mais comum.
Mapa aqui: www.multimap.com

11 de março de 2007

Há dias em que não sei quem sou, dias em que não reconheço quem me olha com sereno espanto no espelho. Mas nesses dias também sei que quem-não-sei-dizer-que-existe pode ser quem eu quiser. E eu posso permanecer esquecida numa almofada de sofá sem que a vida me incomode.
A capacidade de sonhar é infinita, bem o sei. Mas e quando a mente está cansada de montar e desmontar acasos para nós e o coração se estreita mais um pouco de cada vez que a alma é fraca demais para realizar os sonhos? Mesmo quando não sei quem sou sinto quebrar-se qualquer coisa cá dentro quando a vida me faz tropeçar e cair, mesmo quando não sou eu que sonho sinto a alma cobrir-se de negro à certeza da impossibilidade dos acasos. E quando há dor na incapacidade de me reconhecer a vida sussurra-me ao ouvido que me perdi. Eu respondo calmamente que não posso estar perdida porque nunca senti o contrário.
Sei porque é que não me reconheço.
De cada vez que aquilo que construo cai ao chão e se estilhaça em mil pedaços perco um pouco de mim, desaparece um pedacinho de quem sou. Quando passo horas a tentar reconstruir tudo outra vez, quando fico com os dedos dormentes e gelados por estar a colar todas as peças e no fim elas voltam a desmoronar-se aos meus pés. Quando sinto que já não há nada a fazer. Sei que não me reconheço porque há um bocadinho de mim que fica esquecido no meio das peças quebradas.

2 de março de 2007

Mas porque é que fizeste tanta questão em ficar espelhado na janela da minha alma? Eu até te podia ter disponibilizado um espelho bonito, com os berloques do destino à volta, em que a tua figura ficasse nítida e segura.
Mas não...Como o mistério cataliza as mentes humanas, insististe em deixar-me apenas com o reflexo esfumado e frágil de alguém que pretensiosamente assinou o meu coração com tinta permanente. É mesmo teu, sabias? Quando não te queria tão perto de mim, tão definido, estavas lá, vivo e ágil a forçar as minhas reacções ambíguas. Agora que quero ter a tua imagem aqui, que quero poder olhar para ti e conhecer-me, agora que começo a sentir a tua falta de forma estranhamente cortante, deixaste-me um mero reflexo num vidro escuro com gotas de chuva...E eu quase não consigo olhar para ti, tenho os olhos cansados e a percepção começa a falhar...A minha perspicácia já não é o que era, sabias? Aumentei assustadoramente o meu tempo de reacção e começo a perder a noção de como isso aconteceu. No entanto a tua imagem, o teu mero, pálido e esfumado reflexo fita o meu pensar e mais uma vez não consigo falar. Tinhas esse dom irritante e desarmante de me deixar sem palavras, se calhar foi por isso que ficaste tanto em mim...e dizias tu que eu falava demais.

Agora podes largar a minha janela? É que o reflexo dissimulado que me deixaste não me está a deixar apreciar a chuva e já te disse que não consigo olhar para esse tu que já não está...Adeus.