28 de fevereiro de 2008

Silêncio

A pausa azul celeste na velocidade dos dias. Um recanto do paraíso que nem sempre nos lembramos de procurar. Silêncio, aquele bailado leve e ritmado dos movimentos subtis. Um esperar inquieto por algo que nem sempre vem.
Silêncio, um lugar. Um sorriso, uma mão aconchegada entre outros dedos...um olhar. A certeza de uma calma quase palpável, a esperança de um novo começo.
Silêncio, um choro calado, um coração em sossegado palpitar, uma mão estendida e o calor de um abraço. Silêncio, o cansaço das palavras, o irreversível desgaste das frases incompletas...

19 de fevereiro de 2008

Voam

Os olhos cravados nas mãos vazias dele:
- Já alguma vez seguraste um pássaro nas mãos?
Uma expressão de surpresa, um movimento brusco e ele respondeu:
- Ãhn? Acho que não..não..porquê?
- Nada...não a queres perder pois não?
O olhar dele mergulhou em lembranças que não partilhava. A voz calmamente aflita:
- É a última coisa que quero.
Ela engole em seco. Nunca pensou que pudesse custar tanto ouvir aquilo.
- Então...tens que a segurar como segurarias um passarinho. Não podes apertar demais porque vais magoá-lo e ele vai querer fugir, mas também não podes ter as mãos totalmente abertas porque ele vai querer voar para longe. Não porque não gosta de ti, mas porque é o que os passarinhos fazem. Eles voam.
Ele observa-a concentrado e com um visível esforço para absorver cada palavra que tinha acabado de ouvir.
- Então estás a dizer que ela é o meu pássaro?
Um sorriso triste:
- Sim, tens que lhe mostrar que gostas dela, mas não podes exigir todo o tempo do mundo só para ti. Tens que lhe dar espaço para que ela perceba que precisa de ti.
Ele suspirou profundamente.
- Vocês são complicadas...
Ela sorriu. Pensou que às vezes a vida é mais simples do que parece, nós é que insistimos em complicar. Que a vida é curta e que nós é que decidimos se a queremos simples ou complexa.

8 de fevereiro de 2008

Inacabado

Inacabado sim, quando a tua mão se desvia subtilmente da minha e os teus olhos já não sabem quem sou. Incompleto porque me falta o calor da tua pele.
Sou assim desde que fugiste do meu olhar, um sonho desfeito que alguém esqueceu enquanto acordava. Culpo-te. Foste tu que me tornaste nisto, este misto de pedaços de alma que caem a teus pés. Esta miscelânea de vidros estilhaçados na estrada que fizemos de mãos unidas.
Depois de ter sido o fogo do tempo nas horas em que te amei obrigaste-me a ser o gelo solitário que agora te chora. Não sei se te ocupa a mente este meu lamento silencioso, mas sei que te pertuba a solidão em que te envolveste, nunca gostaste de estar sozinha. E agora que soubeste como vencer o medo e me abandonaste não sei como te pensar, deixei de aprender a viver.
Foste tu. Ensinaste-me a ser arco-íris nas nuvens e agora, sem o teu sorriso, vejo-me numa fotografia corroída pela memória a quem roubaste a cor. Sou assim, o guarda-chuva partido que se esforça por te proteger do frio no meio de uma tempestade.
Inacabado, porque me faltas tu, porque a culpa que despejo em ti não me limpa a dor.