16 de novembro de 2010

Cansaço

As pessoas cansam-se, a pele desgasta-se e as palavras de tão repetidas parecem não bastar. Sucumbiste. Deixaste cair os braços e a cabeça, deixaste a respiração encaixar no ritmo constrangido do teu coração e agora não sabes por onde começar. A garganta apertada guarda todos os medos e segura as palavras que vêm do peito. Só as frases desenhadas na tua cabeça têm livre-passe até à tua língua. E tudo o que dizes chega filtrado, purificado, sem mácula de emoção.
Repetes a lenga-lenga do cansaço até te convenceres de que tudo vai ficar bem se descansares, se dormires, se puderes fechar os olhos e fingir que o mundo parou... mas nunca fica e voltas a entrar numa espiral de enganos que te protege e te corrompe. Os dias sucedem-se com a intensidade e a insistência das ondas, vão corroendo barreiras e sobras tu, apenas tu. 
Sem armas, sem lutas, sem rumo.

11 de novembro de 2010

escrito

O mundo já foi escrito. Tudo já foi dito sob a forma de palavras, de metáforas e de parágrafos desenhados a sangue quente. E de que nos serve escrever os dias sem os sentir? Que sórdido consolo temos nas palavras que escolhemos com o cuidado cirúrgico de quem não sabe o que dizer?
O nosso mundo e o outro já foram vertidos em caixinhas literárias para que, sem nunca existirem, nunca deixarem de existir. Mas o mundo pede-nos para ser escrito todos os dias, para ser vivido, partilhado. E nós escrevemos tudo o que somos, em cada passo que damos... na pressa de deixar marcados os caminhos que trilhamos.