Era já noite de um dia qualquer. Era já noite de uma semana sem te ver.
A lua altiva e orgulhosa encheu-se de brilho e brio para me encantar. Deixou-me os olhos a brilhar, as mãos nervosas e os lábios trémulos. E sem me aperceber soube que estava apaixonada, pela sua forma suave, pela sua luz sumptuosa.
E agora diz-me, como podes tu ignorar a lua e quereres-me a mim. Como podes desconhecer o seu brilho que dá luz às noites: a todas as noites.
São pequenas infâmias as palavras que atiras em perguntas levianas sobre a lua. São amenas dores que me provocas, apertos no peito, agulhas na alma, quando dizes que não encontras a lua e que nem sequer a procuraste.
Revoltas-te, argumentas que não tens tempo, estás cansado. Mas será o cansaço maior do que o espaço que o teu pensamento guardou para mim?
E beijaste-me, precipitadamente, de forma descuidada. Distraído e preso a outras cordas, mais brilhantes do que os meus abraços. Apertaste-me e eu fugi. Corri para onde os teus dedos não me pudessem alcançar: nessa noite percebeste que tinhas de me dividir com a lua.