20 de fevereiro de 2006

Eu também sei voar.

Passeia as mãos pelo lençol quente, vazio agora, com a forma difusa de alguém que um dia lhe aqueceu a alma. Tenta fugir, voar para longe daquela prisão, daquele vazio que incoerentemente lhe pesa no coração, as asas recusam-se a abrir, tem medo de não ter um novo abrigo para pousar o espírito. Levanta-se atirando os lençóis brancos para o fundo da cama, enfia os pés nos chinelos, mecanicamente, e o instinto leva-lhe a mão ao cabelo e depois à boca num bocejo.
Há quantos dias é assim? O mesmo peso ao deitar e ao levantar, a mesma angustia que nasce não sabe de onde, que se planta no fundo de tudo e que se espalha como o mercúrio de um termómetro partido.
Os passos lentos, lânguidos, sem direcção levam-na até à janela. A luz irrompe arrogantemente alegre e viva, no entanto, após consentir a sua entrada no quarto, vira-lhe as costas na indiferença da anomia que sente. Senta-se na cama, a boca sabe-lhe a manhã de verão, a perfume do calor do sol e as mãos ainda estão dormentes, o sangue ainda não circula normalmente no seu corpo todo. Junta os joelhos ao queixo e abraça as próprias pernas, nesta posição sente-se protegida, escondida num canto escuro do mundo, onde ninguém a pode perturbar. O silêncio. Sabe-lhe bem escutar o silêncio ecoar na alma, quase como ver os raios de sol numa manhã de chuva.
O quarto cheira a maçã, incenso que queimou ao mesmo ritmo que os seus olhos se queimaram com lágrimas, há um pássaro que canta pretensioso e impertinente lá fora. E ela pensa que há muitos pássaros assim, que cantam na nossa janela e no nosso ouvido e depois voam, logo quando começamos a gostar do seu canto, eles fogem. Levanta o queixo dos joelhos, estica as pernas e deixa-se cair no colchão, diz alto: Eu também sei voar.

11 comentários:

J. disse...

Mto bonito...LINDO!!!
É... Às x kd baixams as barreiras e nos habituams a kk coisa e ela dp vai embora custa mto ms s n o fizéssems naum vivíams algo k pod realmnt ser especial (por pc tempo k seja, o k importa é a intensidd...) *

Anónimo disse...

A verdade é que nem toda a gente vive esse sentimento de solidão...Os lençois por vezes são o nossos melhores amigos :(
Não estou inspirada...
Ass.Bekinhas

Ruben Portinha disse...

E n é tão bom (voar)? :)
E ainda melhor são as manhãs de chuva que sabem a Verão...

Beijinhos!***

João G. disse...

mto bom adorei tati ;)

todos nos sabemos voar... basta querermos e exes voos libertam-nos da angustia k é as xs viver neste mundo...

bjxx** GuIlHo

Reborn disse...

simplesmente adorei, tá lindo ^^

como dizes, sabes voar, todos sabemos. basta querermos voar e libertarmo-nos de tudo

bjinhxx

B. disse...

Querida, li agora o teu comentário ;)...
Obrigada, tocou-me! É verdade, damo-nos francamente bem e assustadoramente semelhantes :)
Um grande beijinho, és muito querida!!
E vale sempre a pena!!***********

SuntoryTime disse...

Usaste a palavra anomia O_O

Tirando isso, que foi assustador, gostei muito. É preciso saber voar (:

Athanais disse...

concordo com a suntory... é preciso saber voar. se não soubermos, o que será de nós?

*

MiLady disse...

adorei =)* e enquanto estava a ler o teu post (coincidência ou não) começou a dar a música dos Lamb...

"I can fly
But I want his wings
I can shine even in the darkness
But I crave the light that he brings
Revel in the songs that he sings
My angel Gabriel

I can love
But I need his heart
I am strong even on my own
But from him I never want to part
He's been there since the very start
My angel Gabriel
My angel Gabriel"

Anónimo disse...

Fantástico!!!!

Gostei... Mt!!!!!!!!!!!
bjinhux amiga*****

Anónimo disse...

O pássaro ao nascer não sabe voar, mas sente a necessidade e a vontade de sentir o ar como os outros sentem. Então aos poucos, vai tentando... caindo na primeira vez, levanta-se de seguida... caindo na segunda, levanta-se de seguida... A diferença existente entre nós e os pássaros é que durante a nossa vida nascemos várias vezes, e infelizmente somos donos de um raciocínio que nos instala a dúvida de querermos ou não passar por todas essas quedas. Mas a maior queda será sempre o medo de não te voltares a levantar!