19 de novembro de 2007

Respirar a noite

Às vezes é preciso ir ver as estrelas, respirar a noite. Sentir que nem tudo é aquilo que não queremos...olhar em frente e ter a certeza de que sabemos dirigir os passos que dermos no escuro.

As mãos geladas levam o medo, as pernas trémulas a angústia de não saber...E o vazio espraia-se na pele de quem caminha sem vontade, como o ar pesado nas noites em que nos deitamos com o nó na garganta de quem não disse tudo o que tinha a dizer.
A certeza de que o amanhã será só mais um pôr-do-sol, só mais um arco-íris passageiro, uma corda de água que deixa a vida cinzenta. Porque às vezes é assim, temos que dar a pele à chuva e sentir o frio lavar-nos de tudo o que nos faz chorar. E ficar de olhar fixo num ponto longínquo, esperar pelas palavras que nem sempre vêm. Permanecer naquele esquecimento precoce e sonhar com tudo o que desejamos em segredo.
Às vezes é preciso inspirar profundamente, aprender a querer um novo dia. É preciso saber respirar a noite para podermos acordar no dia seguinte e sermos capazes de sorrir.

7 de novembro de 2007

Sentada no balouço do sol fita os dedos envoltos na corda que segura.
Deixa a mente divagar, sente-se sorrir com certas lembranças e entristece-se com outras. A confusão não é total e sem se aperceber vai desfazendo os nós do seu pensamento com a paciência de quem doba um novelo de lã.
Hoje é um daqueles dias em que o peso ao fundo das costas é só o prenúncio de uma noite mal dormida. Hoje, ela sente aquela estranheza subtil situada entre o cansaço e o sonho. Sabe que vai acabar por passar...na verdade há poucas coisas que não são efémeras.
E enquanto segue o balanço do seu corpo, sente o ritmo do seu coração em competição com a sua mente. Estica as pernas e força as pontas do pés a tocar o chão. Lentamente e, ao desenhar dois sulcos paralelos no chão, sente-se parar. Fecha os olhos e deixa cair a cabeça para trás, o cabelo desliza-lhe dos ombros para as costas. Permanece assim até sentir coragem para voltar a abrir os olhos.
Esvazia a mente e recomeça o seu balanço suave e, com uma respiração mais profunda, diz com voz serena ao sol que a acalenta:

- Às vezes é preciso parar para recomeçar.