8 de dezembro de 2010

Sentimos

Cada beijo, cada olhar e cada gesto como se fosse só nosso. Como se pudesse durar para sempre. A cada passo despreocupado, a cada sorriso involuntário caímos na certeza construída de que desta vez acertámos, que desta é que é. 
As ilusões são tão próximas daquilo que acreditamos ser verdade que vamos, de sorriso nos lábios e olhar inocente, como se não conhecêssemos o perigo. Vivemos no céu e no inferno, no calor dos sorrisos e no gelo das lágrimas, numa montanha-russa de sentimentos à qual vão saltando parafusos nas suas contínuas viagens. Mas vamos, contra a maré, a sorrir, a tentar convencer todos os que nos rodeiam de que sabemos o que estamos a fazer de que temos a certeza. Às vezes estamos certos. Às vezes sabemos o que estamos a fazer... mas na maioria das vezes estamos apenas a arriscar às cegas na esperança de sair ilesos de uma luta injusta que não envolve armas. Mas muitas vezes a realidade cai-nos nos ombros como um piano lustroso com o peso de todas as dúvidas, todas as palavras escondidas, todos os silêncios desiludidos. E nós sorrimos. Continuamos. Fingimos que estava tudo previsto e que o comboio não saiu dos carris. Será que um dia vamos acordar e perceber que já nem sequer somos nós a conduzir o comboio?