20 de setembro de 2007
Cais da Ternura
No Cais da Ternura a brisa é constante, há quem se sente e não se importe com o frio a morder-lhe os pés. Os sorrisos surgem, brilham e acabam por esmorecer. Os barcos da saudade vão e vêm, nunca ficam muito tempo porque não querem agarrar-se aos ossos de quem permanece esquecido pela emoção. E neste cais há tempo para carícias em cabelos caídos nos ombros fustigados pelo sol, há tempo para toques seguros nas costas, entrelaçar de dedos e acenos de adeus. Há espaço para abraços, lágrimas nos limites da alma e olhares trocados em silêncio. A tristeza apodera-se de quem vê partir e de quem parte, a ternura vai, vem, fica. É constante como o bater ritmado de um coração saudável. É um ciclo vivaz de cores, sabores, sons e angústias. Sentimentos que nascem sem que sejam cultivados, como ervas daninhas que nos corroem o pensamento. A ternura que todos temos debaixo da pele, feita para envolver aqueles que mais perto chegam do nosso coração, alimenta-se do nosso calor e às vezes faz-nos chorar...
3 de setembro de 2007
Simples
De pés cruzados e joelhos afastados, sentada no chão poeirento, brinca com um galho seco de uma videira. Sente o sol quente nos braços frágeis e rechonchudos, ouve com atenção todos os ruídos do campo num fim de tarde estival. Delicia-se com o vento macio que lhe beija a pele descoberta como uma carícia. É criança, sabe que o mundo todo lhe cabe numa mão e que todos os animais sabem cantar. E de repente levanta-se, sacode o pó dos calções curtos de algodão e corre em direcção a uma pequena nascente emoldurada de verde vivo. A água é límpida, o elixir da vida, o líquido que tem o segredo da alegria eterna. E para esta criança o sabor daquela água é melhor que um chupa-chupa de morango ou um gelado de caramelo. Sente-se mais feliz ao esticar os seus pequeninos dedos à água fresca e saboreá-la nos lábios quentes e na língua sedenta pelo calor. Volta a sentar-se no chão desta vez para observar de perto um formigueiro em fase de construção: vê com atenção e repara que as formigas tiram a terra em bolinhas e deixam-na à volta da entrada, pensa que é isso que a mãe faz quando está a limpar a casa, põe o que não quer cá fora. É tudo tão simples.
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