3 de dezembro de 2007

Saudade

Uma gota de sal no rio, uma mão trémula que agarra um lenço branco e encharcado. O calor de ombros encostados permanece num momento inevitavelmente efémero. A certeza daquela angústia póstuma no peito, a vontade de nunca parar e o querer guardar cada minuto. E por cada lágrima que o Tejo acolhe, por cada salto a pisar a calçada gasta há um sorriso e um abraço, há silêncios e risos ensurdecedores.
Um caminho que se faz lado a lado, ombro a ombro, sem esperar pelas oportunidades, a agarrar cada brisa e a respirar cada palavra como se fossem nossas. Porque agora que a noite acaba a beijar o dia, os olhos mostram o vazio que fica quando a alma se prende a um lugar. Depois dos dias acesos de alegria ficam as horas arrastadas e frias, o tempo fugiu e agora demora-se na saudade de outras músicas. E encostados à sua própria força de viver, assustados pelo frio que um coração oco promete, rezam em surdina não deixar morrer o sentimento que os une. Cantam baixinho para acalmar o corpo dormente e procuram um canto escuro na sua mente para esconderem as feridas de ver partir os anos.
Sem saberem têm a certeza de ouvir partir sentimentos, de ouvir estalar gargalhadas suspensas num plano longínquo e sentem pena. Mais que pena, dor. O levantar voo do rouxinol pequeno e amedrontado que leva todas as lamúrias de quem esquece o que vive. Porque podemos fugir das lembranças que nos fazem chorar. Mas o coração, esse, guarda a saudade.

13 comentários:

Anónimo disse...

Nem a propósito...Hoje ficava aqui.

B. disse...

Dói não nos darmos porque acabamos sozinhos, a invejar a vida que corre lá fora...
Dói também quando nos damos um pouco, mas esse pouco não foi nunca suficiente e amanhã saberemos que nos deviamos ter dado um pouco mais...
Mas o que dói mais, é dar demais. O que dói mais é saber que demos tudo e isso talvez não tenha sido suficiente, e o coração cresceu cresceu cresceu de e por amor e de repente a fonte esvai-se, seca.
Queremos guardar o melhor de nós para os melhores que há de nós. Mas eles partem porque têm de ir melhorar outras vidas, outros rostos, a nós resta a saudade, a dor...

(este comment é mais sobre o assunto que estamos a falar no msn do que aquele sobre o qual postaste, mas nao interessa. Em qualquer dos momentos tu estás lá, entre os melhores, no topo, a brilhar. Obrigado).

J. disse...

hum olha naum m apetece comentar c filosofias, gostei...

n quero só lembrar quero continuar a viver para adiar o momento da saudade

Alexx M. disse...

Saudade... "para ser sentida quando, e se, quiser". Um sentimento bonito, mas que deve ser vivido sempre com a esperança, tão típica de nós, de que o amanhã um dia trará o passado de volta... e então o Tejo não bebe mais lágrimas e os risos e abraços regressam para trazer Sol à nossa vida.

Anónimo disse...

Dos melhores textos teus que ja li..ta fenumena!! e a imagem tambem!!

SoNosCredita disse...

bem guardada!

B. disse...

Oh e que fazer ou dizer?
Às xs migalhas como tempo e dinheiro atrapalham-nos e não deviam.
Hoje foi um jogo de cestos e bolas. Está mal assim...
E os sorrisos?
Hei?
E as fotografias a preto e branco, desfocadas e com efeitos estranhos?

Gosto de nós e de comentários totalmente esquizofrénicos!

Filipa Antunes disse...

And again...

Ruben Portinha disse...

"...o coração guarda a saudade". O problema é que às vezes a saudade é demasiado pesada e ele não aguenta... Mas enfim, outro dia virá, o sol nascerá de novo e, ao fim da claridade, vem a Lua e tudo segue o seu rumo!

Beijinho*

Tiago Ramos disse...

E pronto, incluí no meu blogue:
"Título do blogue inspirado em www.segredosaospedacos.blogspot.com"

Diana disse...

gosto tanto de ler os teus textos... têm sempre algo de novo.. :D

Sonhos e Devaneios disse...

parabens lindo texto
abraços
Joao

Anónimo disse...

glad to share my shoulder... :D
basta pedires ja sabes, vizinha.. ;)