lma. Deixam-se ficar a ver o pôr-do-sol e a pedir-lhe baixinho para se demorar mais desta vez. E há manhãs em que saltitam no sorriso do sol, irrequietas e felizes, em que salpicam os dias de magia. Mas também há dias em que a noite é o único consolo e as palavras se escondem atrás de portas trancadas pelo tempo, se reduzem a feixes de luz esquecidos no amanhecer, a reflexos do céu nas águas paradas.São horas em que as palavras se entristecem e pintam as frases a negro, escondem segredos. Falam baixinho, sussurram até, têm medo de fazer sangrar as feridas e rasgar de novo a pele. Tão fortes e tão frágeis.
Esquecem-nas tantas vezes nos parapeitos das janelas, nas ombreiras das portas cerradas de madeira roída e antiga. E elas permanecem como se tivessem nascido ali, nalgum canto que o sol esqueceu, no abrigo da chuva. Usamo-las com tanto desprezo que o gelo não é capaz de as abraçar e as gotas de chuva quente não chegam para as consolar. É por isso que às vezes, mas só às vezes, fogem de nós…

