Uma gota e depois outra. As lágrimas que esconde por baixo da pele começam a doer. Está sentada à beira mar, olha para o horizonte e tudo se mistura. A chuva já não lhe sabe lavar a alma, a serena carícia da água fria já não
chega para a acalmar.
Há algo que falta, uma peça que já não sabe como se encaixar.Cruza os braços por cima dos joelhos e fecha os olhos, sente o frio a corroer-lhe os ossos mas não é capaz de se levantar. Por entre os passos de alguém que a acompanhou perdeu o ritmo do seu andar, e agora já nem sabe por onde começar.
Num suspiro obriga o corpo a erguer-se, sustém o peso nos pés com a leveza de quem nunca parou para pensar.A chuva cai intensa nos seus ombros e ao caminhar sente o seu coração desconcertado. Espalhado pelo chão em peças pequenas que têm que reaprender a estar juntas, como um puzzle.
Desfeito, esquecido nalgum tapete que ninguém pisa.A visão turva-se e ela já não sabe se é a chuva ou se são fracções do seu próprio sal. Mas ao andar a alma não lhe pesa nos tornozelos, as mãos balançam como se não carregassem a vida de mais alguém.
Ali, debaixo da chuva, as gotas são refúgio, o mar é porto de abrigo.