Gosto de fotografias bonitas. Gosto das histórias, dos sorrisos e dos comentários atrás da imagem que se guarda. Chateia-me que as imagens sejam mágicas e que as pessoas percam a sua magia. Não gosto que a tinta se esbata e muito menos que as memórias desvaneçam. Mas há memórias que se degradam debaixo do pó que acumulamos nos dias. Imagens que ficam embaciadas pelo tempo, palavras que os nossos ouvidos esquecem. As fotografias ficam e selam durante mais tempo aquilo que sentimos, desenterram esqueletos e trazem à vida momentos que nem sempre nos fazem feliz pela sua ruína. Mas, durante mais tempo, ficam. Mais tempo do que a memória. Muito mais tempo do que as palavras. Dizem-me que as fotografias também se podem apagar. Não sei se acredito.
29 de agosto de 2012
27 de agosto de 2012
A noite cai.
Ela sonha. Leva asas nos pés, palavras nos dedos. E aquele sorriso despreocupado de quem ainda se fascina com os pequenos milagres.
Há dias em que o mundo não percebe como é que os sorrisos se sustentam na sua expressão. As pessoas olham para ela e não compreendem como é que os lábios rasgam a tristeza para receber o que há de bom na bainha dos dias. E ela acredita. Tem a certeza de que no cruzamento do sol no horizonte sobram estrelas com sabor a girassóis. Sabe que o algodão doce são pedaços de nuvens, mesmo que perceba que no fundo são feitos de açúcar. Fecha os olhos ao cinzento da chuva, mas abre as mãos para receber o fresco da água que cai. Esconde o que de feio têm os seus pensamentos e escolhe as cores com que pintar a sua felicidade.
Mas às vezes nem as mais brilhantes cores chegam para tapar as tábuas partidas da sua casa. E a noite cai. As estrelas dizem "boa noite" e ela fica só. Adormece embalada ao ritmo do seu coração, anoitecida pelo silêncio.
Monstros
Voltou
para casa com a noite a cobrir-lhe os olhos e o frio a embaciar-lhe os vidros
do carro. Aquela sensação agridoce era familiar. A música roufenha e o banco
desconfortável. A cozinha fria e húmida, o estômago também. O caminho curvou-se
à sua vontade e levou-o a casa, sem segredos, nem medos. Ele carregou cada lágrima por
chorar e guardou-as numa caixa. Arrumou a sombra que trazia agarrada a si.
Despiu as dores e vestiu a leveza de ser só, só ele. Sem pensamentos esquecidos
nas pontas dos dedos, sem olhares cheios de palavras que nunca diria. Esse
pequeno mundo de almas voltaria a engoli-lo ao nascer do sol.
A cada
final do dia abandona as dores no tapete da entrada e aconchega em si o que
precisa para descansar. Nada mais. Sempre lhe disseram que não era bom levar os
monstros para dentro de casa.
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