Voltou
para casa com a noite a cobrir-lhe os olhos e o frio a embaciar-lhe os vidros
do carro. Aquela sensação agridoce era familiar. A música roufenha e o banco
desconfortável. A cozinha fria e húmida, o estômago também. O caminho curvou-se
à sua vontade e levou-o a casa, sem segredos, nem medos. Ele carregou cada lágrima por
chorar e guardou-as numa caixa. Arrumou a sombra que trazia agarrada a si.
Despiu as dores e vestiu a leveza de ser só, só ele. Sem pensamentos esquecidos
nas pontas dos dedos, sem olhares cheios de palavras que nunca diria. Esse
pequeno mundo de almas voltaria a engoli-lo ao nascer do sol.
A cada
final do dia abandona as dores no tapete da entrada e aconchega em si o que
precisa para descansar. Nada mais. Sempre lhe disseram que não era bom levar os
monstros para dentro de casa.
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