27 de agosto de 2012

Monstros


Voltou para casa com a noite a cobrir-lhe os olhos e o frio a embaciar-lhe os vidros do carro. Aquela sensação agridoce era familiar. A música roufenha e o banco desconfortável. A cozinha fria e húmida, o estômago também. O caminho curvou-se à sua vontade e levou-o a casa, sem segredos, nem medos. Ele carregou cada lágrima por chorar e guardou-as numa caixa. Arrumou a sombra que trazia agarrada a si. Despiu as dores e vestiu a leveza de ser só, só ele. Sem pensamentos esquecidos nas pontas dos dedos, sem olhares cheios de palavras que nunca diria. Esse pequeno mundo de almas voltaria a engoli-lo ao nascer do sol.
A cada final do dia abandona as dores no tapete da entrada e aconchega em si o que precisa para descansar. Nada mais. Sempre lhe disseram que não era bom levar os monstros para dentro de casa.

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