Quando um amor é desfeito é como se as paredes da nossa casa desaparecessem.
Quando amas dás tudo, vives nessa pessoa. Fazes casa nela, aninhas-te e até deixas os chinelos à porta. Ficas confortável. Segura. Quando essa pessoa te diz que vai alugar o quarto que tem no coração a outra pessoa é duro. Onde é que vais arrumar as tuas tralhas? Onde deixas a roupa, os pijamas e os sapatos? Fica tudo à deriva, uma nuvem de coisas que já não têm lugar.
Tentas escondê-las num armário bafiento que tinhas lá por casa, mas nem tudo cabe. Tens de encontrar outro. Um quarto confortável onde arrumes tudo o que trazes na bagagem. Mas olhas à volta e só te aparecem dispensas escuras. Não chega e não te chega. Para tudo o que trazes contigo, nem tu te chegas.
Aos poucos vais deixando coisas aqui e ali, perdendo algumas, esquecendo outras. Ficas com aquilo que realmente te faz falta. E depois é só esperar para encontrar um quarto simpático: um 2º andar, por cima da aorta, com vista para o ventrículo esquerdo... Um daqueles que te faça feliz.