Dançam apenas, como se a música não fosse a minha mente. Nos dias em que o espectáculo é triste, aninham-se umas nas outras, tímidas e escuras. Nas sessões mais animadas abrem as vogais e quase cantam. Há dias em que até insistem em rimar. E nunca, mas nunca, param de dançar.
Segredos aos Pedaços
30 de janeiro de 2015
Dança
Dançam apenas, como se a música não fosse a minha mente. Nos dias em que o espectáculo é triste, aninham-se umas nas outras, tímidas e escuras. Nas sessões mais animadas abrem as vogais e quase cantam. Há dias em que até insistem em rimar. E nunca, mas nunca, param de dançar.
26 de janeiro de 2015
Cadernos Vazios
São fantasmas por entre os livros que leio, à espera de serem exorcizados. São lençóis por usar à espera dos sonhos que ainda tenho por sonhar. São espelhos virados uns para os outros onde ninguém se vê reflectido.
E ficam, permanecem abraçados pelos livros que já li, que não leio e que um dia vou ler. Esperam pacientemente, como se me ouvissem sussurrar "um dia volto a ter tempo para escrever".
Eu olho para eles e vejo-os: orfãos de tinta e caneta, vindos de mãos leitoras e ansiosas, cheias de esperança na entrega de uma chave para uma obra de arte.
Para mim, estes cadernos vazios são preguiça e pressa: preguiça de desmontar a vida e pressa de a viver.
Mas eu prometo, vou voltar a escrever.
12 de fevereiro de 2014
14 de janeiro de 2014
Sono
10 de dezembro de 2013
Casa coração
19 de novembro de 2013
Das coisas que não se vêem
21 de agosto de 2013
Até...
29 de julho de 2013
Lisboa Apetecida
9 de julho de 2013
Se sabes
3 de julho de 2013
Palavras, outra vez.
13 de maio de 2013
Poucas Palavras
Há dias que nem são dias, nem são palavras.
São cadeiras numa sala de espera vazia à procura de alguém que lhes dê presença. E as palavras que se ouvem não são nomes, nem ordens. São palavras brandas e vazias: mais silêncios do que letras.
As horas são compostas de pausas sem som, nem forma. Os dias são feitos dos minutos que se fazem sozinhos... sem pedir autorização, sem dizer a ninguém.
Há dias assim, de poucas palavras... e muito por dizer.
14 de março de 2013
Pergunta-me noutro dia.
Essas perguntas difíceis, pergunta-me noutro dia. Aquelas que guardas no pensamento e que tens medo de fazer a ti mesmo. Hoje respondo-te o que posso. Mas pergunta-me noutro dia. Num dia em que possa compreender o meu estado de espírito. Num dia em a chuva não faça dos dias despojos cinzentos do Inverno.
Essa pontuação. Guarda-a para outras horas em que os pensamentos não me pesem. Hoje a reposta é esta. Nem sim, nem não. Nem nada. Deixa os pontos de interrogação para quando eu conseguir pôr os pontos nos is.
8 de janeiro de 2013
De outros dias
Há dias que não são nossos porque não queremos que sejam. Porque, nesse dias, não nos queremos.
15 de outubro de 2012
Dança de Criança
25 de setembro de 2012
Adivinhar
29 de agosto de 2012
Fotografias
27 de agosto de 2012
A noite cai.
Monstros
25 de março de 2012
Sonhos
13 de março de 2012
Esquece
30 de dezembro de 2011
Rio
- Não preciso, vejo o rio nos teus olhos.
Ela riu, boca escancarada, dentes brilhantes a reflectir o sol: achou aquilo tão foleiro que não conteve o riso. Mas gostou.
- Vês? O meu charme é irresistível.
Olhou para ele com um sorriso de gozo comprimido nos lábios. Ele continuou:
- Gosto de gargalhadas fáceis. E a tua é deliciosa.
28 de novembro de 2011
Encontros
Com alguma falta de inocência toquei-lhe nos pés com a bengala, foi uma provocação maliciosa porque sabia perfeitamente onde estava o corpo dela - mas às vezes gosto de tirar partido da minha condição. Pedi desculpa apressadamente e ouvi-a responder "não faz mal" numa voz quente e segura, quase cerimoniosa. Senti-lhe um sorriso nas palavras e isso obrigou-me a sorrir também.
14 de novembro de 2011
Hipocrisias
18 de outubro de 2011
17 de outubro de 2011
Quando
24 de setembro de 2011
Suspiro
21 de julho de 2011
16 de junho de 2011
certeza
30 de maio de 2011
Chegar, chegamos.
4 de abril de 2011
Nada mudou
Sentimo-nos escorregar no escuro até um refúgio que não existe. O conforto é a pele dormente, o descanso é a mente vazia. Como é que nos apercebemos de que deixámos de usar o instinto e passámos a usar a razão? A razão aconchegante que nos deixa tão áridos e secos.Ouvimos tantas vezes as mesmas frases… se nada mudou porque não é o mesmo? Descemos ao fundo, procuramos incessantes até ter o coração agitado e as mãos doridas. E depois percebemos. Sentimos a gota gélida da compreensão na nuca. Sentimos as mãos mais vazias do que nunca. Se nada mudou, a mudança aconteceu em nós.
22 de março de 2011
Escudo
7 de março de 2011
estragada.
- Não és uma boneca que cai na água e fica estragada. Não é assim que funciona.
- Mas sinto que se partiu algo aqui dentro.
- Não sejas parva, estás só cansada.
- Dói-me a cabeça, mas não é uma dor que passe com um comprimido.
- Toma um na mesma.
- Estou estragada.
- Pára de dizer isso, não estás nada estragada. Onde é que foste buscar isso?
- Não sei, sinto-me estragada.
- Toma. Isto vai fazer-te sentir melhor.
- Não quero. Não me sabe bem, não me serve para nada.
- Ajuda. Confia em mim. E agora dorme. Amanhã vai ser um dia melhor.
31 de janeiro de 2011
Fé.
É tão fácil perder a fé nos Homens.
28 de janeiro de 2011
Medos
5 de janeiro de 2011
Como?
Os passos dados no escuro nem sempre nos levam até à luz, mas ficar imóvel na escuridão não nos tirará de lá. Foram tantas as vezes que deixámos de ser nós a conduzir, tantas as vezes que perdemos o pé e ficámos sem fôlego. São tantos os medos que nos perseguem e que olhamos através do espelho sem fugir e sem os enfrentar. Tantas razões que nos sufocam e amarram. Como é que se esquece que escondidos no escuro podem estar outros perigos?
8 de dezembro de 2010
Sentimos
16 de novembro de 2010
Cansaço
Sem armas, sem lutas, sem rumo.
11 de novembro de 2010
escrito
O nosso mundo e o outro já foram vertidos em caixinhas literárias para que, sem nunca existirem, nunca deixarem de existir. Mas o mundo pede-nos para ser escrito todos os dias, para ser vivido, partilhado. E nós escrevemos tudo o que somos, em cada passo que damos... na pressa de deixar marcados os caminhos que trilhamos.
19 de outubro de 2010
Sem cor
25 de agosto de 2010
A beleza que nos esconde
Hoje vi a beleza que nos esconde despir-se para mim e num acto nada sensual revelar os tenebrosos contornos da sua pele. As pessoas são más, feias no seu âmago por muito sublimes que se desenhem. E hoje vi com clareza o doce mel com que se cobre o fel que nos corre nas veias, senti os espinhos venenosos que se escondem nas folhas verdes à sombra da mais bela rosa.
12 de agosto de 2010
Breves instantes
5 de julho de 2010
Em silêncio, viver a cantar.
23 de junho de 2010
Hoje não me bastam meias-palavras
31 de maio de 2010
mergulhar
10 de maio de 2010
Balanço
30 de abril de 2010
Começar outra vez
27 de abril de 2010
Enche-me a casa de balões
22 de abril de 2010
Girassol
Para ela tudo tem um cheiro característico, mesmo o girassol confuso do jardim, que nunca persegue a luz do sol. Acha que é por causa do orvalho que a manhã cheira a fresco e a comida acabada de fazer. Para ela é tudo tão óbvio. E quando lhe vejo um sorriso acidental apertado entre os lábios, sei que naquele momento ela está feliz.
Lembro-me de ter tirado uma fotografia ao girassol do tamanho de um prato, que cresceu à toa de uma semente que o papagaio deixou cair. Ela sempre gostou daquela flor. Era confusa, como ela. Era gigante e estava sozinha num ambiente que nunca se preparou para a receber. Era uma lutadora e tornava o verão mais alegre. Era amarela, tinha um sorriso em cada pétala e resistia. Era isso que a tornava especial.
13 de abril de 2010
Happy XL
6 de abril de 2010
Escrevia
21 de outubro de 2009
19 de agosto de 2009
caminhar
Fecho os olhos e obrigo-me a sentir os pés firmes no chão, aperto os lábios na certeza de amordaçar as palavras e respiro fundo. Dás-me a mão e acompanho o teu movimento, com a leve esperança de sentir o mundo dentro de mim. Balanças o corpo num andar despreocupado e sorris entre suspiros, pergunto-me se isso significará que estás feliz. Procuro o teu olhar, mas há tanto ainda para ver, tanto que os meus olhos querem absorver...
Tu, de olhos fixos no horizonte, espalhas os teus sonhos pelo caminho que ainda percorro contigo, e olhas para longe. Tão longe, que não me vês mergulhar de mansinho na paisagem e desaparecer entre o sol e a noite. Eu, guardo um sorriso para ti e vou.
8 de julho de 2009
- Alguma vez viste o Sol nascer?
- Não, mas o que tem de especial?
- Como assim? É mágico!
- Oh, por favor! É esperar, cheio de sono, que alguma coisa aconteça para depois perceber que já aconteceu!
- Ver o Sol nascer é muito mais do que isso. Não te rias. É mágico, a sério. Se for depois de uma noite de festa é sentires o cansaço em proporção à felicidade, é ansiares pelo conforto da tua cama, sabendo que te divertiste. Se for a manhã de horas e horas à conversa é acomodares a rouquidão na conversa e o sorriso nos lábios...
- Sim, sim. Isso é tudo muito giro, mas e se for depois de uma noite de discussão ou depois de uma má notícia?
- Se te sentires sozinho, desorientado... se for naquelas alturas em que nada parece fazer sentido e tudo te magoa... aí, o nascer do Sol é a prova de que é possível começar de novo!
24 de junho de 2009
E, no regresso a casa, caminhou pela rua, pelo parque, tem a sensação de ter andado pela cidade inteira. Não viu nada, não viu ninguém, deixou que os seus passos a guiassem para um lugar estranho. Um lugar que ela é obrigada a conhecer a cada fim de tarde, quando o dia atira os seus restos para o caminho e força a noite a dar os primeiros passos.
Agora na quietude da sua sala sente-se afastada do mundo, não, afastada não: escondida. Tem a aparelhagem no volume máximo, a música quase lhe fere os ouvidos, mas aguenta. Porque, assim, consegue manter todos os pensamentos afastados da mente.
4 de junho de 2009
Escrever-te
E a verdade é que as linhas que traçamos no chão nem sempre se mantêm firmes, rectas e intransponíveis. Os dias forçam-nos a escolher as palavras, a olhar o chão que tencionamos pisar antes de o fazer, a provar antes de comer. E é tudo tão simples que chega a tornar-se complexo: uma borboleta não é só uma borboleta, mas é a forma como olhamos que a transforma em muito mais do que isso. Tudo à nossa volta se ajusta ao nosso olhar e, quase sem saber, fazemos da vontade de viver uma desculpa para vergar o quotidiano aos passos que damos.
Mas, para já, quero que as palavras me obedeçam. Preciso que as minhas palavras deixem de ser tuas e voltem a submeter-se a mim. Quero que o escrever, sobretudo o escrever-me, não seja escrever-te.
25 de maio de 2009
À deriva
E de repente o esforço que fazemos para tentar respirar deixa-nos exaustos, de repente tudo o que nos parecia certo deixa de o ser e sobramos nós... verdadeiramente sós.
6 de maio de 2009
Inquietude
Pára. Respira fundo e tenta acalmar-se por entre o desespero de não perceber a razão de tanta agitação e os olhares agitados que a atacam. Nunca foi assim, as pessoas não a assustavam. O que mudou?
27 de abril de 2009
24 de abril de 2009
Momentos
Fazemos tudo para os guardar, gravar na mente aquela gargalhada e aquelas palavras que nos fizeram felizes. Uma fotografia, um olhar, um toque ou um bilhete despreocupado. Tudo o que nos faz sonhar. Efémeros e esquivos, são esses momentos que constroem, aos poucos, cada um de nós.
13 de abril de 2009
Novelo
12 de março de 2009
Desassossego
20 de fevereiro de 2009
Um dia
Mas o mundo nega-te a viagem e tu continuas a lutar contra os obstáculos que vêm na tua direcção, não te mexes. Esperas. Respiras Fundo. Escondes as lágrimas na garganta e negas a inércia que te move.
A leve sucessão dos dias impressiona-te e esmaga-te contra uma realidade que não queres aceitar, mas há um dia em que tentas. Esqueces as frustrações e recusas tudo o que em tempos te desiludiu, tentas e acreditas que vais conseguir. Esticas a mão e ficas surpreendido com o alcance do teu braço.
22 de janeiro de 2009
Longe
30 de dezembro de 2008
Clack!
- Porque é que fechaste a porta?
Um sorriso óbvio e saboroso:
- Porque vou abrir todas as janelas!
23 de novembro de 2008
6 de novembro de 2008
Desmoronamento
E aí, nesse lugar vazio do desmoronamento, forçamos os pulmões e respiramos fundo... continuamos.
Também aqui.
15 de outubro de 2008
Com a lua…
Era já noite de um dia qualquer. Era já noite de uma semana sem te ver.
A lua altiva e orgulhosa encheu-se de brilho e brio para me encantar. Deixou-me os olhos a brilhar, as mãos nervosas e os lábios trémulos. E sem me aperceber soube que estava apaixonada, pela sua forma suave, pela sua luz sumptuosa.
E agora diz-me, como podes tu ignorar a lua e quereres-me a mim. Como podes desconhecer o seu brilho que dá luz às noites: a todas as noites.
São pequenas infâmias as palavras que atiras em perguntas levianas sobre a lua. São amenas dores que me provocas, apertos no peito, agulhas na alma, quando dizes que não encontras a lua e que nem sequer a procuraste.
Revoltas-te, argumentas que não tens tempo, estás cansado. Mas será o cansaço maior do que o espaço que o teu pensamento guardou para mim?
E beijaste-me, precipitadamente, de forma descuidada. Distraído e preso a outras cordas, mais brilhantes do que os meus abraços. Apertaste-me e eu fugi. Corri para onde os teus dedos não me pudessem alcançar: nessa noite percebeste que tinhas de me dividir com a lua.
22 de setembro de 2008
Não molhes o silêncio.
11 de setembro de 2008
Agora dá-me a mão, o silêncio não chega para que percebas que estou aqui, que sou real. Nunca te deste bem com a ausência de voz, o vazio das palavras. Nunca gostaste que eu as guardasse só para mim. Sempre achaste que as palavras são como presentes, que não se guardam, oferecem-se. E tu sabes que eu guardo cada presente teu, escuto cada palavra desenhada pela tua voz, porque tenho medo do teu silêncio. Na tua boca o silêncio é tristeza, os momentos em que emudeces a voz são punhais cravados no meu coração. E as tuas feridas são minhas também, sangro os mesmos rasgões abertos pelas lâminas que escondes.
Anda cá, deixa-me sussurrar-te ao ouvido. "Vai correr tudo bem. Eu estou aqui."
21 de agosto de 2008
E mesmo assim o dia prosseguiu, altivo, sem esperar por ninguém, com a solidez de quem repete os mesmos passos mais vezes do que queria. As horas foram arrastadas, contrariadas num saltitar sereno e audaz. E numa orquestração coordenada, a semana foi desenrolando as suas notas sem parar.
Os sorrisos habituais, as palavras necessárias ao silêncio, todos os elementos foram assumindo o seu lugar sem perguntar porquê. E no fim de cada dança, com os acordes mais calmos, o sol pousa a cabeça no mar e o corpo no horizonte e adormece. Sem saber que a lua chega para lhe velar o sono.
21 de julho de 2008
Sorri enquanto observa dois cães a perseguirem-se pela rua. O suave balanço das horas não a incomoda, o lento girar da terra não a distrai. O mundo dela é perfeito, pleno de sol, bolos, animais e canções. A felicidade que transborda do seu sorriso é quase tangível.
Na sua inocência imaculada não sabe que um dia vai olhar para trás e ver que o tempo passa quando estamos desatentos. Que a vida se desfaz em gargalhadas e abraços, em lágrimas e palavras. Que os dias são nossos com a certeza do seu fim.
2 de julho de 2008
E dos olhares fugidios fica tanto por dizer, segredos que em surdina não soubemos como guardar. O compasso do coração é a batida da alma, que expõe o que não conseguimos verbalizar. O novelo de pensamentos é o desenho de quem aprendeu a guardar as palavras e agora não sabe como usá-las.
Vamos preenchendo os dias numa cortina opaca, cor de pastel. Numa angústia omnipresente que nos ata os tornozelos e os pulsos a uma árvore seca e morta, vamos esperando que o vento nos solte, que o sol corroa as cordas e nos devolva a liberdade. Mas enquanto houver lábios a morder as palavras por medo, não haverá espaço para voar.
18 de junho de 2008
Hoje quero misturar os significados e esconder os sinónimos. Escolher cinco palavras e virá-las do avesso, pegar em mais três e mudar-lhes os acentos. Quero brincar, usar o que escrevi e o que pensei...esquecer o que nunca quis escrever e deixá-lo escorrer-me pelos dedos até ao papel. Sem que eu me aperceba.
Porque às vezes não sou eu que mando nas palavras, são elas que me conduzem por labirintos inexplorados e me deixam esquecida no silêncio do que sinto. E elas vêm assim, em catadupa, cheias de significado e jogos maliciosos na sua conjugação. Eu deixo-me levar sem sussurrar um queixume que seja, é rodeada de palavras que sou feliz.
Mas hoje quero desconstruir tudo que elas me trazem, refazer todos os textos e esconder todas as frases que me mostram como sou. Porque nem sempre sei como falar de mim, porque nem sempre sei procurar as palavras certas.
27 de maio de 2008
Piano
As teclas gemiam e rasgavam a noite, sustinham a correria da cidade por um instante. Tudo parecia silencioso, as estrelas bebiam sedentas daquela alma desfeita em notas musicais e ela permanecia imóvel, de olhos fechados e o coração escancarado. A melodia dançava no vento, preenchia o ar como um aroma agradável que não se quer esquecer.
Sentiu uma gota fria cair-lhe no joelho, mas não se inquietou. Muitas outras caíram sobre o fim do dia e ela não foi capaz de ser levantar, não enquanto aquele piano tocasse. As notas eram carícias, como doces palavras que se dizem em noites de luar e a noite chegava, embalada pelos acordes certeiros e sofridos.
Quem estaria a tocar? Não sabia, mas tinha a certeza de que permaneceria ali até o silêncio chegar. Imaginou serenamente as mãos de alguém a dançarem nas teclas neutras de um piano de cauda, o coração acelerado de quem tocava ao ver que o piano traduzia sentimentos...quase foi capaz de sentir a sua respiração ritmar a harmonia da música.
E o piano cessou, passados segundos, minutos, horas...talvez dias. E ela sentia a pele gelada e molhada, mas a alma quente e sossegada.